Imagine a cena: uma senhora de setenta e poucos anos é
encaminhada ao psicólogo com o provável diagnóstico de depressão. A senhora
chega com seu vestidinho de chita, cabelo preso num coque bem alinhado e com um
brilho no olhar que faz a psicóloga duvidar que era aquela mulher a paciente que
deveria ser atendida naquele horário. Suas bochechas rosadas e sua presença
leve não parecia em nada com as de alguém com depressão.
A psicóloga entra para o consultório e começa a conversar
com a senhora. Primeiro vem uma lista
interminável de sintomas: insônia, falta de apetite, ansiedade, tremor,
palpitação no peito, falta de concentração, etc. Aparentemente tudo se
enquadra. Conversando um pouco mais a senhora conta sobre sua vida, seu marido
falecido há muitos anos, seus filhos e netos, e, por fim, ela fala sobre um
amigo da família que vai toda tarde visitá-la. Neste momento um doce sorriso
estampa-se em seu rosto. Ela não consegue esconder a empolgação. A psicóloga
compreende o que está acontecendo. Conversa com ela e explica que não se trata
de depressão, mas algo bem diferente. Qual é o mal que acomete essa pobre
senhora sexagenária? Paixão! Mais pura e simples paixão. A senhora ouve
surpresa e atenta cada palavra da psicóloga e com um sorriso entre os dentes
pergunta “Mas doutora, como pode? Eu já sou velha.”
Felizmente essa história aconteceu de verdade. Sim... uma
avó estava apaixonada ao ponto de deixar o bolo queimar no forno. É
surpreendentemente agradável perceber que por mais velha que a pessoa possa
ser o coração continua batendo. A idade
é incapaz de desensibilizar nossas emoções. Quando alguém pensa que já viu
tudo, já viveu tudo, que já esgotou sua cota de amor durante a vida vem alguém
e arrebata-lhe coração.
Qual foi o final da história? Ela num desespero adolescente
perguntou “mas o que eu faço agora? Já somos muito velhos, não estamos mais na
idade de namorar.” A psicóloga lhe sorri conspiradoramente e diz “Não faça
nada, mas não se esqueça de passar perfume na hora que ele vier lhe visitar!”.