Uma fala que escuto constantemente em meu consultório é “Eu
posso ser sincero?”. Essa frase e suas variantes (“Posso falar a verdade?”,
“Desculpe-me por falar isso.”) revelam todo o medo que a pessoa tem de não ser
acolhida em sua face mais frágil. Infelizmente, aprendemos que expor nossos
sentimentos e fragilidades é algo inadequado e grosseiro, que não seremos
aceitos, tampouco amados, se mostrarmos quem realmente somos.
Venho observado que esse aprendizado é extremante eficaz,
pois de tanto acreditarmos que é errado ser quem se é, sentir o que se sente e
dizer o que se pensa, acabamos por esconder de nós mesmos aquilo que julgamos
que os outros não aceitarão. Recentemente atendi um rapaz que me disse “Não sei
se aqui é a hora nem o lugar para dizer, mas tem algo que nunca contei para
ninguém.”. O que responder num momento desse? “Bom... sinta-se a vontade para
dizer ou não.”.
Não, de fato não é fácil ser sincero. Aprendemos que tudo tem
a hora e o lugar para se falar, as palavas certas, as pessoas adequadas. Mas
para além disso, aprendemos que existem coisas que nunca devem ser ditas,
sentimentos que nunca podem ser expressados, pensamentos que jamais devem ser
comunicados. Por fim, quem se expressa é tido como louco, infantil, ingênuo ou
grosseiro. Falar o que se pensa é coisa para criança: “Ah... crianças, falam
tudo que lhes vem a cabeça!”.
E nessa de guardar o que achamos inadequado acabamos
desaprendendo a nos expressar. Dizer que ama, que está com medo, que sente
inveja, expressar a dor e a insegurança, chorar, tudo isso se torna vergonhoso.
Não é raro ver uma expressão de susto misturada com alívio quando a pessoa
percebe que, sim, ela pode falar a verdade e, não, ela não será julgada por
isso.
Aprende-se a usar uma máscara social, e ela é usada durante
tanto tempo que o sujeito acaba
acreditando que essa é a única face possível. Existe uma crença inconsciente
de que embaixo daquela máscara habita um monstro terrível: para sobreviver é
necessário escondê-lo.
Mas será que é isso mesmo? Não... na verdade é um privilégio
ver alguém se libertando de sua máscara. Embaixo dela habita um ser frágil,
porém belo. Não há perfeição, mas é justamente os pequenos defeitos que tornam
a pessoa mais encantadora. Como nos quadros de Picasso, a beleza não se
encontra na perfeição e sim na assimetria.