O livro O Banquete do filósofo
Platão apresenta vários discursos sobre o amor. Dentre os discursos
apresentados há um muito interessante onde um dos personagens, Erixímaco,
apresenta a teoria de que existiam seres que possuíam quatro braços, quatro
pernas e duas cabeças chamados andrógenos. Eles eram muito fortes, velozes e
poderosos, sendo muito superiores aos homens. Por suas características, os
andrógenos se rebelaram contra os deuses. Zeus, portanto, resolveu partir-lhes
ao meio para puni-los tornando-os mais fracos.
Segundo Erixímaco, essa seria a
origem das almas gêmeas, ou seja, os andrógenos, sendo partidos ao meio,
buscavam sem fim sua outra metade na tentativa de completar-se novamente.
“Por conseguinte, desde que a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por usa própria metade e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral, por nada quererem fazer longe um do outro.” (O Banquete, Platão)
“Por conseguinte, desde que a nossa natureza se mutilou em duas, ansiava cada um por usa própria metade e a ela se unia, e envolvendo-se com as mãos e enlaçando-se um ao outro, no ardor de se confundirem, morriam de fome e de inércia em geral, por nada quererem fazer longe um do outro.” (O Banquete, Platão)
Apesar de poucas pessoas
acreditarem no mito do andrógeno, ainda persiste a crença de que existe um
encontro perfeito entre duas pessoas, de tal modo que o sentimento de
completude superará o vazio existencial humano. No fundo, todos nós gostaríamos
de encontrar nossa alma gêmea, aquela pessoa que nos dispensará de qualquer
necessidade por mais gente.
No consultório é fácil perceber
essa necessidade de completude total. Não é raro perceber em homens e mulheres
a fantasia de que o parceiro irá completá-lo e fazê-lo feliz eternamente. Por
um lado, observa-se uma frustração com a realidade, onde o parceiro não
consegue suprir todas as necessidades do indivíduo. Por outro, há uma cobrança
excessiva de que o casal deve se bastar. Alguns discursos demonstram plenamente
isso, por exemplo, o homem que não entende porque a mulher precisa de amigos
para desabafar, “Ela pode contar as coisas pra mim! Eu não sirvo?”.
Outros discursos são mais implícitos
e socialmente aceitos, como, por exemplo, o desrespeito à individualidade dos
sujeito. “Nós somos casados. Não deve haver segredos entre nós.”. A necessidade
de contato estreito e constante acaba fadando o relacionamento ao mesmo destino
dos andrógenos: a morte.
No relacionamento entre almas
gêmeas (ou entre andrógenos) não há espaço para gostos divergentes, não pode
haver individualidade, não é admissível a separação do par. Ela não gosta de
futebol? Ele não vai ao campo. Ele não gosta de dançar, ela não vai ao samba. E
nessa mistura perde-se a essência da pessoa.
É interessante ver pessoas após o
rompimento de uma relação longa. Geralmente elas encontram-se perdidas, não
sabem mais o que gostam de fazer, ou porque fazem as coisas que fazem.
Aparentemente para que haja união, tudo aquilo que distingue o sujeito do
parceiro deve ser jogado fora, os dois devem se fundir perfeitamente, sendo
assim, é necessário matar uma parte de si para se adequar ao outro. A grande
dúvida que surge é - será que realmente isso é amor?