É consenso em nossa sociedade que
o período da adolescência é uma fase crítica na vida das pessoas. A criança
inicia uma série de transformações, mas elas não são apenas fisiológicas. Nesse
período da vida ocorrem importantes processos cognitivos e sociais que nem
sempre são vividos de forma tranquila.
As alterações hormonais às quais
os meninos e meninas estão sujeitos transformam não apenas o corpo, mas a
percepção que o indivíduo tem do mundo e de si mesmo. Alteração de voz, amadurecimento dos órgãos
sexuais, crescimento de pelos pubianos, início do ciclo menstrual, o retorno da
libido (saída do período de latência), início do período cognitivo operatório
concreto (fase descrita por Jean Piaget que se caracteriza pela adoção da
habilidade mental de se pensar em termos abstratos e realizar operações lógicas
ao nível das ideias), tudo isso vêm acompanhado de uma radical mudança no
status social que o indivíduo ocupa.
Nessa fase certos comportamentos
que anteriormente eram aceitos como naturais passam a ser considerados
imaturos. É nesse momento que o sujeito começa a participar de forma mais ativa
e consciente do convívio familiar. Ou seja, é quando o sujeito passa a ter
maiores responsabilidades com a manutenção da casa, compreender melhor os
conflitos familiares e principalmente ter que se posicionar diante de situações
complexas, muitas vezes necessitando auxiliar o gerenciamento de crises.
O indivíduo começa a perceber de
modo muito mais claro os conflitos conjugais vivenciados pelos pais, as crises
financeiras, os conflitos sociais e as primeiras decepções amorosas.
Definitivamente essa não é uma fase nada fácil.
Por outro lado, os pais assistem
a tudo de cabelo em pé. A grande maioria não sabe lidar com os momentos
vivenciados pelos filhos e são invadidos pelo sentimento de impotência.
Presenciar essa fase muitas vezes significa para os pais reviver os próprios
conflitos da adolescência.
Reviver os conflitos da adolescência através do filho leva alguns pais a se sentirem paralisados, tornando-se incapazes de auxiliar e orientar os adolescentes de modo adequado. Alguns erros comuns são cometidos nessa fase. Por exemplo, os pais que observam que os filhos estão iniciando sua vida sexual e preferem ignorar os sinais. Nesse caso, às vezes os pais se apoiam em crenças religiosas. Julgam que o indivíduo deve manter-se casto até o casamento. Outros utilizam-se da vã afirmação de que os filhos ainda são muito novos para tal situação.
Já outros pais preferem adotar
uma posição autoritária diante desse conflito. Lembro-me de uma senhora que
estava desesperada e veio conversar comigo. Sua filha iniciou o namoro com um
rapaz o qual a senhora não julgava ser uma pessoa adequada para ela. A mãe
chorava e brigava diariamente com a filha sem que isso surtisse nenhum efeito
positivo. Ao contrário, a relação das duas apenas estava se desgastando a cada
dia. Ela expôs a situação e perguntou qual atitude adequada deveria tomar.
Contou-me que proibiu a menina de sair de casa e de fazer as atividades que
mais gostava. Após um longo diálogo, chegamos à conclusão de que essa posição
assumida pela mãe só daria mais força àquele amor proibido. Ora, retirar toda a
distração e atividade que davam prazer à filha era uma forma de fomentar a
relação, afinal, a menina começou a ter mais e mais tempo para devanear sobre o
amado.
Um mês depois essa mesma senhora
veio conversar comigo super feliz. A garota havia terminado o namoro sem que
ela interferisse e a relação das duas ficou mais próxima e sólida. Que milagre
aconteceu? A mãe parou de brigar com a filha, deixou de ser um empecilho para o
relacionamento e se posicionou como alguém em que a menina podia confiar e
pedir auxílio. Com o tempo, a menina percebeu que realmente o tal garoto não
era aquilo que ela achava e resolveu por fim ao relacionamento.
Qual lição podemos tirar desse
exemplo? É inegável de que os pais precisam impor limites claros e objetivos aos
filhos. Contudo, muitas vezes é importante adotar uma posição amigável onde os pais deixam de ser um
rivais e passam a ser pessoas em quem o filho pode confiar. Esse é o
caminho mais saudável para manter a relação e auxiliá-lo em seu momento de
crise.
"Sua filha iniciou o namoro com um rapaz o qual a senhora não julgava ser uma pessoa adequada para ela." O que os pais podem fazer nessa situação? Opinar sobre o relacionamento que não agrada ou simplesmente aceitar a decisão da filha e esperar que ela tenha o mesmo pensamento que os pais?
ResponderExcluirAnônimo,
ResponderExcluirNão acredito que calar-se numa situação como essa seja o melhor caminho. É dever dos pais orientar os filhos. Uma conversa amigável é sempre bem-vinda. Sentar com o filho e expor os motivos que o leva a julgar o namoro inapropriado colocando-se à disposição para que o filho se posicione e exponha seus argumentos mostra-se muito eficaz.
A questão aqui é quando os pais simplesmente entram num embate sem fim, pois isso só cria um ambiente hostil onde a rivalidade marca a relação pai e filho.
Outra situação que acho extremamente importante o diálogo é quando os pais percebem que os filhos estão em processo de iniciação sexual. Ignorar ou proibir não surte muito efeito, sendo assim o melhor caminho é instruir o adolescente e levá-lo ao médico, mesmo quando achamos que ainda é muito cedo para que eles tenham relações sexuais. Nesses casos vale a velha máxima "prevenir é melhor do que remediar".
E se mesmo com o diálogo adequado a filha manter a posição dela? Os pais vão ficar batendo na mesma tecla até ela concordar com eles? Vai ter um momento em que os pais só poderão aguardar até que tudo se acerte... A filha pode achar que o namorado seja a pessoa que ela quer passar a vida inteira juntos. Nessa situação os pais só poderão aceitar e tentar compreender que o melhor pra ela será o melhor pra eles também. Ela tem o direito de escolher quem é o melhor pra ela.
ResponderExcluirAnônimo,
ResponderExcluirComo eu disse, os pais devem orientar, mas a decisão é da pessoa. Infelizmente (para os pais) ou felizmente todo mundo tem o direito de tomar as próprias decisões e cometer os próprios erros. Como no caso que eu relatei acima, às vezes, é esperar que como o tempo as coisas são esclarecidas.
Concordo plenamente!
ResponderExcluirMuito obrigado pela conversa! =]
De nada, qualquer coisa permaneço disponível para conversarmos mais.
ResponderExcluirGostaria de saber até que idade vai esta fase de aborrecentes?
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