Na era da informação, onde tudo
tem que funcionar do modo mais rápido e eficaz possível, parece que a vida
tornou-se instantânea. Não há tempo a se perder. As pessoas estão sempre
atrasadas, sempre correndo. Corre-se atrás da vida... corre-se da vida.
O tempo que já era escasso, quase
não existe quando o assunto envolve desprazeres. Dor? Analgésico! Ansiedade?
Ansiolítico! Tristeza? Antidepressivo! Há sempre uma resposta pronta que nos impulsiona para manter o
movimento. Se a pessoa não está sorrindo o tempo todo existe algum problema, é
necessário ir ao médico e tomar uma medicação.
Lembro-me de que há alguns anos
atrás, quando eu trabalhava para num posto de saúde de uma prefeitura no interior de Minas, encaminharam-me um senhor que me disseram que estava deprimido. O senhor, já com mais de
setenta anos, havia perdido a companheira com quem viveu durante mais de
cinquenta anos. A falecida havia sido acometida por câncer e sofrera muito
antes de morrer. O viúvo estava muito triste e amuado, havia emagrecido muito e
era pego constantemente com lágrimas nos olhos.
Não esqueço o momento que o vi.
Um senhor de pele castigada pelo sol, com um olhar singelo e um sorriso melancólico.
Seu cabelo estava cortado, a barba feita, as roupas limpas e bem passadas.
Cumprimentou-me um pouco tímido e pediu desculpas (desculpas pelo o que?).
Disse-me que mandaram ele vir para a consulta com a doutora e por isso ele tava
lá, mas que não tava sentindo nenhuma dor não. Só o pé, mas já estava
melhorando.
Conversamos durante uma hora e
meia. Ele contou-me sobre sua hortinha; sobre suas dificuldades na cozinha,
motivo pelo qual havia emagrecido tanto; sobre seu machucado no pé, que o fazia
ir ao posto de saúde trocar o curativo três vezes por semana e, é claro, sobre
a vida e morte de sua esposa.
Quando ele foi embora reuni a
equipe médica para conversar sobre o caso. Falei que aquela tristeza que o
senhor sentia não era nem de longe depressão. Pelo contrário, ele estava
caminhando muito bem para quem havia perdido a esposa há tão pouco tempo (menos
de dois meses), ele estava se cuidando, ia ao posto, se alimentava (como podia, pois havia perdido a pessoa que providenciava sua comida), enfim, estava tentando
continuar a vida. Concluí minha fala dizendo que se ele estivesse dando pulos
de alegria eu recomendaria investigar melhor os motivos que levaram ao óbito
sua esposa.
Ora... chorar a morte de uma
pessoa amada não é apenas normal, é saudável. O luto é um processo importante
para a saúde psíquica da pessoa. É necessário respeitar o luto daqueles que
perdem, independentemente do que se perder. Um companheiro, um emprego, uma amizade,
uma casa ou um sonho, a perda precisa ser vivida e trabalhada. É necessário compreender
que esse é um processo natural e importante, respeitando quem está vivendo esse
momento e dando o suporte necessário para que a pessoa consiga vivenciar e
superar esse momento.
Adorei o texto....as vezes, as pessoas estão tão preocupadas em parecer bem, que esquecem do quão importante é viver cada momento, mesmo que seja de dor. A dor também é importante, ou talvez mais importante, para o crescimento...
ResponderExcluirMas, o luto ou a tristeza do outro incomoda demais. É comum aos que estão próximos àquele que sofre desejarem ou mesmo exigirem que a pessoa fique bem logo.É mais confortável. Não se respeita mais o sofrimento legítimo do luto, tão inerente à vida.Cristiane
ResponderExcluir