quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Maternidade e culpa


Não há dúvidas de que ter um filho é uma experiência inigualável na vida de uma pessoa. Gerar uma vida, acompanhar seu crescimento e desenvolvimento, educar um indivíduo, cuidar, amar e (por que não?) ser amado incondicionalmente é uma vivência transformadora na vida de uma pessoa.

Contudo, a experiência da maternidade não é tão passíva e prazerosa quanto a sociedade retrata. Ela exige um constante esforço e muito trabalho. A ideia de que a mulher nasce para ser mãe é mais um dos mitos que povoam nossa sociedade. Assim como ninguém nasce mulher, homem, professor, jogador de futebol, religioso ou estudante, ninguém é mãe a partir do momento que fica sabendo da gravidez. É necessário perceber que ser mãe é uma construção de identidade, sendo assim há vários conflitos para que essa identidade se constitua.

A demanda constante por carinho, atenção e cuidados acaba por tornar um grande desafio a tarefa da maternagem. A situação torna-se mais drástica em nossa sociedade uma vez que as mulheres estão inseridas no mercado de trabalho e participam ativamente no sustento da família. Existe uma acumulação de responsabilidades em cima das mulheres, o estresse gerado por essa pressão em que se encontram as mulheres têm sido fonte de adoecimento.

Além disso, observa-se que a maternidade atualmente vem envolta por um grande sentimento de culpa. Recentemente ouvi na clínica uma mãe se culpar por admitir que um dos maiores prazeres que sente é tomar um cafezinho após o almoço. A fala daquela mulher (“Eu sei que é errado, que é egoísmo meu. Eu deveria me sentir bem com algo relacionado às minhas filhas”) caracteriza bem o que muitas mulheres vivenciam. Outra mulher uma vez confessou angustiada que se sentia aliviada quando ia para o trabalho e podia se desligar um pouco dos filhos. Ela recriminava-se enquanto mãe, pois não condizia com a imagem retratada socialmente. Uma mãe não pode gostar de trabalhar, ela tem que se sentir feliz apenas quando está perto do seus filhotes?

Não, definitivamente não é errado se sentir bem com algo que não envolva os filhos. Não é egoísmo nem falta de amor sentir-se aliviada quando se tem um tempo só para si. E não é ser uma mãe ruim querer esse tempo. O que é errado é achar que a mulher tem que dar conta de tudo sozinha. Ser mãe é vivenciar sentimentos ambivalentes (contraditórios) em relação aos filhos. O amor  vêm acompanhado de angústia, impotência, cansaço e até mesmo raiva e, com os filhos não é diferente.

É evidente que várias mulheres se sentem culpadas por não poder se dedicar mais aos filhos, por não estarem com eles todos os dias. Mas é notório que muitas também se sentem culpadas por sentirem-se esgotadas devido a maternidade. Ser mãe não é só sentir coisas boas, sim, elas existem e são incontáveis, contudo a exigência dessa atividade também trás sofrimento. É necessário propiciar espaços para que as mulheres compartilhem suas angústias com relação à maternidade. E, ainda, fazê-las compreender que antes de serem mães elas são seres humanos, como qualquer um.