terça-feira, 12 de março de 2013

Adolescência ou "aborrescência"?


É consenso em nossa sociedade que o período da adolescência é uma fase crítica na vida das pessoas. A criança inicia uma série de transformações, mas elas não são apenas fisiológicas. Nesse período da vida ocorrem importantes processos cognitivos e sociais que nem sempre são vividos de forma tranquila.

As alterações hormonais às quais os meninos e meninas estão sujeitos transformam não apenas o corpo, mas a percepção que o indivíduo tem do mundo e de si mesmo.  Alteração de voz, amadurecimento dos órgãos sexuais, crescimento de pelos pubianos, início do ciclo menstrual, o retorno da libido (saída do período de latência), início do período cognitivo operatório concreto (fase descrita por Jean Piaget que se caracteriza pela adoção da habilidade mental de se pensar em termos abstratos e realizar operações lógicas ao nível das ideias), tudo isso vêm acompanhado de uma radical mudança no status social que o indivíduo ocupa.

Nessa fase certos comportamentos que anteriormente eram aceitos como naturais passam a ser considerados imaturos. É nesse momento que o sujeito começa a participar de forma mais ativa e consciente do convívio familiar. Ou seja, é quando o sujeito passa a ter maiores responsabilidades com a manutenção da casa, compreender melhor os conflitos familiares e principalmente ter que se posicionar diante de situações complexas, muitas vezes necessitando auxiliar o gerenciamento de crises.

O indivíduo começa a perceber de modo muito mais claro os conflitos conjugais vivenciados pelos pais, as crises financeiras, os conflitos sociais e as primeiras decepções amorosas. Definitivamente essa não é uma fase nada fácil.

Por outro lado, os pais assistem a tudo de cabelo em pé. A grande maioria não sabe lidar com os momentos vivenciados pelos filhos e são invadidos pelo sentimento de impotência. Presenciar essa fase muitas vezes significa para os pais reviver os próprios conflitos da adolescência.


Reviver os conflitos da adolescência através do filho leva alguns pais a se sentirem paralisados, tornando-se incapazes de auxiliar e orientar os adolescentes de modo adequado. Alguns erros comuns são cometidos nessa fase. Por exemplo, os pais que observam que os filhos estão iniciando sua vida sexual e preferem ignorar os sinais. Nesse caso, às vezes os pais se apoiam em crenças religiosas. Julgam que o indivíduo deve manter-se casto até o casamento. Outros utilizam-se da vã afirmação de que os filhos ainda são muito novos para tal situação.

Já outros pais preferem adotar uma posição autoritária diante desse conflito. Lembro-me de uma senhora que estava desesperada e veio conversar comigo. Sua filha iniciou o namoro com um rapaz o qual a senhora não julgava ser uma pessoa adequada para ela. A mãe chorava e brigava diariamente com a filha sem que isso surtisse nenhum efeito positivo. Ao contrário, a relação das duas apenas estava se desgastando a cada dia. Ela expôs a situação e perguntou qual atitude adequada deveria tomar. Contou-me que proibiu a menina de sair de casa e de fazer as atividades que mais gostava. Após um longo diálogo, chegamos à conclusão de que essa posição assumida pela mãe só daria mais força àquele amor proibido. Ora, retirar toda a distração e atividade que davam prazer à filha era uma forma de fomentar a relação, afinal, a menina começou a ter mais e mais tempo para devanear sobre o amado.

Um mês depois essa mesma senhora veio conversar comigo super feliz. A garota havia terminado o namoro sem que ela interferisse e a relação das duas ficou mais próxima e sólida. Que milagre aconteceu? A mãe parou de brigar com a filha, deixou de ser um empecilho para o relacionamento e se posicionou como alguém em que a menina podia confiar e pedir auxílio. Com o tempo, a menina percebeu que realmente o tal garoto não era aquilo que ela achava e resolveu por fim ao relacionamento.

Qual lição podemos tirar desse exemplo? É inegável de que os pais precisam impor limites claros e objetivos aos filhos. Contudo, muitas vezes é importante adotar uma posição amigável onde os pais deixam de ser um rivais e passam a ser pessoas em quem o filho pode confiar. Esse é o caminho mais saudável para manter a relação e auxiliá-lo em seu momento de crise.