quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Entrevista: saúde sexual da mulher



Recentemente respondi uma entrevista para o Correio Brasiliense sobre os fatores que podem influenciar a saúde sexual da mulher. Transcrevo abaixo as respostas às questões que me foram apresentadas.



Existe mesmo o ponto G? Pergunto isso pois existe ainda muita discussão sobre a existência dele. Se sim, onde ele está?

O ponto G, ou ponto Gräfenberg, é uma região um pouco rugosa que fica de 4 a 5 centímetros na parte anterior do canal vaginal. Ele ficou famoso por ser uma região que se entumece e que fica mais sensível quando a mulher fica excitada.

O importante com relação ao ponto G é que algumas mulheres sentem muito prazer quando estimuladas nessa região, contudo, isso varia de mulher pra mulher. Existem mulheres que não sentem diferença, já outras ficam com vontade de urinar quando ele é estimulado. A polêmica em torno do ponto G é a crença de que encontrá-lo e estimulá-lo é uma garantia para o orgasmo feminino. Porém, há que se lembrar que isso é um mito. O orgasmo feminino depende muitas outras variáveis, como o nível de excitação fisiológica e psicológica, a estimulação de outras zonas erógenas, o relaxamento da mulher, dentre outras.

A maioria das mulheres sentem mais prazer na parte externa do órgão sexual feminino. Para que elas alcancem o orgasmo é essencial a estimulação do clitóris e os pequenos lábios. Sendo assim, é mais provável que essas mulheres tenham orgasmo através do sexo oral, do que através da busca pelo ponto G.
                                                
O que são pontos erógenos? A vagina tem muitos? Onde estão?

Pontos erógenos são regiões onde existem maior concentração de terminações nervosas, sendo assim quando estimulados esses pontos são capazes de produzir maior excitação sexual. No corpo humano existem vários pontos erógenos, como por exemplo, nuca, pescoço, lóbulos da orelha, mamilos, coxas, nádegas, etc. De modo geral, os órgãos sexuais são os pontos erógenos mais contundentes, ou seja, capazes de provocar maior excitação sexual.

É notório que a capacidade de excitação que a estimulação desses pontos varia de pessoa pra pessoa e de situação. Sendo assim, um ponto erógeno capaz de excitar extremamente um determinado sujeito, pode, em uma determinada situação, ser fonte de desprazer.

O organismo feminino, de modo geral, possui mais pontos erógenos espalhados pelo corpo do que o organismo masculino. E no órgão sexual feminino existem várias regiões erógenas,
Identificar quais as regiões são capazes de gerar mais excitação na mulher é algo muito importante para uma relação sexual prazerosa, contudo, há que se lembrar que nem sempre o que excita uma mulher irá excitar outra.

Com que frequência a mulher deve ir a um ginecologista?

É recomendável que a mulher vá ao ginecologista pelo menos uma vez ao ano independentemente de ela possuir uma vida sexual ativa. Contudo, se a mulher possuir algum tipo de disfunção ou doença, como, por exemplo, ovário policístico, é recomendável que aumente o número de consultas ao médico.

É importante lembrar que muitas doenças sexualmente transmissíveis são muito mais agressivas no corpo da mulher. Um bom exemplo é o HPV. Ele não causa nenhum transtorno no homem, contudo no organismo feminino pode gerar câncer do colo do útero. Sendo assim é indispensável fazer o controle anual para evitar que algo simples transforme-se em uma doença grave.

Quais doenças podem interferir na saúde sexual da mulher?

Essa é uma pergunta complicada, pois na verdade, de um modo geral, todas as doenças são capazes de interferir na libido feminina, sendo assim, acabam atrapalhando a saúde sexual da mulher. A relação sexual é uma atividade que demanda muita energia, quando o organismo encontra-se abatido ele tende a concentrar toda sua força no combate àquilo que lhe causa mal, sendo assim, sobra pouca energia para atividade sexual.

Mas algumas doenças crônicas, como a depressão e o estresse, acabam por interferir de forma mais danosa na vida sexual da mulher, devido a sua longa duração.

Alguns medicamentos podem diminuir a libido? Como eles agem e que medicamentos são esses?

Sim, vários medicamentos podem diminuir a libido, principalmente aqueles que interferem no equilíbrio hormonal. Os principais medicamentos que prejudicam a libido são aqueles que diminuem o nível de testosterona no organismo da mulher. A testosterona, que é um hormônio conhecidamente masculino, está altamente ligada à libido feminina, sendo assim, quando esse hormônio está em baixa no organismo da mulher, ela tende a apresentar um menor interesse sexual.

Quais os fatores podem interferir na saúde sexual da mulher?

Não há como cindir os aspectos da vida do sujeito, sendo assim, vários aspectos são capazes de prejudicar o interesse e desempenho sexual da mulher. Saúde, trabalho, crise na família, tudo isso está ligado à capacidade de deixar se envolver durante o ato sexual.

Atualmente, na clínica, tenho observado que o estresse vem interferindo de modo bastante significativo na vida sexual da mulher. A acumulação de responsabilidades acaba por esgotar a mulher física e mentalmente, sendo assim, na hora da relação, muitas vezes, a mulher encontra-se tão casada ou preocupada que não consegue sentir prazer durante a relação. Ouço o relato de mulheres que apenas querem que o sexo acabe logo para que elas possam ir dormir ou resolver mais algum problema. Isso é extremamente danoso tanto para a saúde da mulher, quanto para a relação com o parceiro.

Existe um estimulante para mulheres? Em quais casos ele é indicado?

Sim, existem algumas medicações capazes de estimular o desejo nas mulheres. Geralmente indica-se para casos onde há alguma alteração hormonal, como por exemplo, a reposição de testosterona. Contudo, conforme disse acima, muitas vezes o rebaixamento do desejo sexual não é uma questão dessa ordem. O desinteresse sexual pode ser causado por outras variáveis, como o estresse, a depressão e até mesmo a ausência de desejo pelo parceiro.

Algumas mulheres reclamam de ausência de desejo, mas na verdade observa-se que falta desejo pelo esposo ou parceiro. É natural que isso aconteça, e observa-se que quando ela se envolve em outra relação seu desejo volta com toda a intensidade.

No Reino Unido e nos Estados Unidos, cirurgiões plásticos estão ingetando botox no interior da vagina das mulheres, dizendo ser no ponto G, para que elas tenham mais orgasmos. Isso pode ser perigoso?

Sinceramente, acho isso extremamente arriscado. Procedimentos novos sempre representam riscos, pois não sabemos quais serão os efeitos que podem causar no organismo com o tempo. Quando se trata do órgão sexual feminino é mais arriscado ainda. A vagina é um sistema que precisa permanecer em equilíbrio, nela existem fungos e bactérias que vivem em harmonia, quando algo altera-se surgem doenças, como a candidíase. Mexer num sistema como esse é sempre arriscado. Ainda mais por ser um local frágil e altamente vascularizado.

Particularmente acho ingenuidade achar que injetar botox no ponto G irá proporcionar mais orgasmos na mulher. A mulher não goza apenas com o ponto G. Como eu disse, existem vários outros pontos erógenos no organismo da mulher que são capazes de proporcionar o prazer sexual. Além do mais, uma relação sexual prazerosa está ligada a vários outros fatores, como o desejo pelo parceiro, a intimidade, a capacidade de se entregar ao ato, etc.


Quem quiser conferir a reportagem que foi publicada online no site do Estado de Minas, a qual apresenta outras informações, clique no link abaixo: