sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Asperger - Parte I


A Síndrome de Asperger durante muitos anos era diagnosticada como Autismo de alta funcionalidade e até hoje há muita confusão e desinformação a respeito do que é esse transtorno. Mas o que é essa síndrome? Como se comporta a pessoa que tem asperger? Tem tratamento? Como e quando identificá-la? 
Trata-se de um dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, ou seja, é um transtorno que afeta vários aspectos do desenvolvimento da pessoa. As habilidades sociais, a comunicação, o comportamento, os interesses e atividades são consideravelmente afetados. A pessoa que tem asperger apresenta um grave compromentimento de interação social e uma grande tendência de fixar seu foco em apenas um objeto de interesse. Diferentemente dos autistas, quem possui asperger quer manter relações socias, contudo, é extremamente complicado compreender o funcionamento e as regras sociais.
É como se o asperger mergulhasse a pessoa em um mundo binário. Apenas existe sim e não, preto e branco, claro e escuro. A vida é algo extremamente lógico. Não raramente a pessoa se interessa pelos campos da ciência em que o uso da lógica é essencial. Sendo assim, em seu mundo as relações humanas são peças que não se encaixam em seu quebra-cabeça. 
Associado ao mundo polarizado do asperger limitações de outras ordens ajudam a complicar o envolvimento social da pessoa. Os sujeitos afetados por esse transtorno possuem uma incapacidade de compreensão da liguagem não-verbal. Todas os modos de comunicação que não são expressos verbalmente e da forma mais direta possível (como, por exemplo, entonação de voz, expressão facial, metáforas e ironias) não são compreendidos pelo indivíduo, fazendo com que a comunicação seja prejudicada.
Imagine uma cena, o rapaz está conversando a primeira vez com uma moça, ela é bonita, inteligente e entende tudo de campo magnético (suponhamos que essa seja a área de interesse dele). Ele ficou realmente interessado nela. Ela diz “eu adoro pequi! Não posso nem sentir o cheiro.”. Quando chega o aniversário dela ele a presenteia com uma garrafa de licor de pequi. Ela fica brava. Grita com ele e diz que a brincadeira não teve graça. O rapaz olha atônito para a moça sem entender o que está acontecendo. Ele percebe que ela ficou com raiva porque ela o chama de “idiota” e diz que não quer vê-lo nunca mais. Mas não entende o motivo, ele só quis agradá-la. 
Nessa situação hipotética, ao dizer que adora pequi, a moça estava comunicando justamente o contrário. Ela odeia pequi. Qualquer outro interlocutor teria compreendido, pois através de sua voz, sua careta, a expressão corporal, tudo indicava que ela esta sendo irônica.  Mas ele não entendeu. Ela disse que adora pequi, então ela adora pequi. 
A partir dessa cena hipotética podemos imaginar que esse rapaz provavelmente ficará inibido de fazer uma nova investida amorosa. É importante observar que esse tipo de “desentendimento” ocorre em quase todas as relações que a pessoa que tem asperger se envolver e ao longo de toda a vida do sujeito. Entender o que as pessoas querem dizer quando dizem algo torna-se uma tarefa árdua e exaustante. Sendo assim, a tendência do sujeito é tentar se isolar desse mundo caótico, cheio de cores, tons e nuances que são as relações humanas.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nada a se fazer


Um dos sentimentos mais devastadores que alguém pode sentir é a impotência. Estar de mãos atadas diante de uma situação que foge ao seu controle é altamente desconfortável e devastador. Mas, na vida há momentos que não há alternativas, só resta-nos esperar.  
Um pai que vê o filho com fome pode ir para rua tentar conseguir um emprego, pode arrumar dinheiro emprestado, pedir esmolas ou até mesmo cair na marginalidade. Ele é capaz de tudo para alimentar sua criança. Mas, e quando a necessidade é de outra ordem? O que pode fazer um pai diante da dor do filho?
Lembro-me de uma cena em que uma senhora chora pedindo a um médico que lhe retire uma de suas córneas e dê à filha, pois essa senhora não suportava mais vêr sua menina ficar cega diante de seus olhos sem que pudesse fazer nada. Um pedido descabido? Sim... claro! Médico algum aceitaria fazer tal procedimento. Contudo, para aquela senhora era a única alternativa, a única coisa que estava ao seu alcance para aplacar o sofrimento de sua filha.
Há pessoas que vivem atormentadas pela impotência, “meu maior medo é meu filho adoecer e eu não ter dinheiro para pagar seu tratamento”.  E em função de uma situação hipotética a pessoa sacrifica uma vida, deixa de viver momentos importantes com a família e os amigos para garantir recursos.
Mas engana-se quem pensa que a impotência atinge somente os pobres. Claro que quanto menos recursos financeiros, maior a probabilidade de estar impotente diante de uma situação. Todavia, é igualmente desolador, e às vezes até mais doloroso, constatar que existem recursos materiais e não há nada a ser feito.  
Compreender que na vida muitas coisas não estão sob controle talvez seja um dos caminhos para conseguir lidar com esse sentimento. Nos momentos de impotência lançar mão da fé e da esperança é um dos poucos meios capazes de tirar a pessoa do estado de abandono e letargia que a impotência pode gerar. Para Georges Bermanos “A esperança é a maior e a mais difícil vitória que um homem pode ter sobre a alma.” E, talvez, o único remédio eficaz contra o desespero causado pela impotência.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Medo


Um dos sentimentos mais primitivos que existe é o medo. Ele é um dos componentes essenciais do instinto de sobrevivência e está presente em todos os seres vivos. As plantas sentem medo. Quando percebem que estão diante a algum tipo de ameaça à sua integridade elas liberam comunicadores químicos, semelhantes aos hormônios, para comunicar às outras plantas e aos animais e insetos para que possam lhe ajudar. Por exemplo, uma planta que está sendo atacada por pulgões libera um comunicador químico que atrai os predadores desses insetos.

Que animais também sentem medo não há dúvidas. Basta observar um encontro casual entre um filhote de gato com algum cachorro. O animalzinho fica todo encolhido e arrepiado ao ver seu inimigo em potencial. Mas então, o que difere o medo que nós seres humanos sentimos do medo dos animais?

O primeiro elemento é a presença do medo na ausência do objeto causador do sentimento. O gato do exemplo sente medo do cachorro ao vê-lo. Ele não deixará de sair de casa por medo de que tenha um cachorro na esquina. Já os homens sentem medo mesmo que a situação de risco não esteja presente. Uma pessoa deixa de ir na padaria às dez horas da noite por medo de ter um ladrão na rua. O medo dos humanos antecipa a situação de risco, o dos animais só se apresenta diante dela.

Outra diferença importante é que animais e plantas só sentem medo de objetos concretos. Um sapo sente medo de uma cobra. Ela está ali, diante dele e ele sente medo. Já os homens sentem medo de coisas abstratas. Há quem sinta medo do futuro, do amor (ou da falta dele), da solidão, do vazio, de errar, enfim, as pessoas são capazes de sentir medo das coisas mais impalpáveis e, muitas vezes, improváveis.

Sentir medo é algo saudável, extremamente importante para a manutenção da vida. Se não houvesse esse sentimento as pessoas se exporiam a várias situações perigosas e desnecessárias. Contudo, o medo exagerado pode paralisar. É importante identificar até onde o medo que se sente é um instinto de sobrevivência que está beneficiando sua vida ou é algo que tem te impedido de caminhar. Como diria Platão “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz”.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Resiliência



Existe um conceito da física que foi apropriado pela psicologia chamado resiliência. Para a física resiliência é a propriedade que alguns materiais possuem de acumular energia quando  exigidos ou submetidos a estresses sem que haja ruptura. O material resiliente se modifica durante a tensão e depois libera a energia acumulada voltando ao seu estado anterior. A psicologia apoderou-se deste conceito para explicar a capacidade que certas pessoas têm de manterem-se estáveis mesmo em situações extremas.

Mas, o que é ser resiliente? É ser otimista? Não. Na verdade o otimismo é uma das características que as pessoas resilientes possuem, contudo ser otimista não é ser resiliente. Os otimistas acreditam que tudo vai dar certo, que apenas coisas boas acontecerão. Geralmente, pessoas otimistas demais tendem a ser ingênuos e acabam se frustrando muito com as adversidades da vida. Uma pessoa resiliente sabe que coisas ruins podem acontecer, que nem tudo na vida dará certo, mas que a vida também não é feita apenas de situações ruins. O resiliente consegue extrair das situações ruins lições para que no futuro sua vida melhore.

Um ótimo exemplo de resiliência que a física nos dá é a vara usada em salto. Quando o atleta a prende na caixa de apoio, ela se curva acumulando energia. Depois que essa energia é acumulada ao máximo ela retorna ao seu estado normal transformando aquela energia em força que impulsiona o atleta para cima. É exatamente isso que uma pessoa resiliente faz. Durante a tensão ela se curva, contudo essa energia acumulada é transformada em força para impulsioná-lo para novos horizontes e desafios.
Transformar a carga acumulada durante uma situação de tensão não é fácil. Converter a dor, a angústia e o medo em esperança, fé e força é um dos maiores desafios enfrentados pelos homens. Existem pessoas que são mais resilientes que outras, contudo, essa é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Cabe a cada um fazer a escolha de transformar a situação que o faz curvar em algo que o impulsiona. A cerca que o limita pode na verdade o guiar para o caminho da liberdade.